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domingo, 24 de fevereiro de 2013

suicídio ou morte ---

confesso que gira em torno de uma coisa, ou de outra. não sei dizer ao certo, mas o espanto do homem - de nós mesmos - frente ao inevitável é aquilo que dá força a este projeto. quero dizer: não é sobre isso o projeto. não é sobre a morte, nem mesmo sobre o suicídio. dragão almeja apresentar uma situação na qual cinco pessoas se vêem envolvidas no suicídio de uma pessoa em comum. mais que sua morte, mais que a forma pela qual essa pessoa atravessou a vida, importa pensar em quem fica. importa lançar olhar sobre aquilo que sobra à vida. o espanto. a desmedida. enfim... aquilo que não se explica.

por isso a situação. a situação como forma de preparar o terreno para a ousadia que virá. e que veio. mudando de assunto, caio de imediato no naturalismo. é preciso estudar. mas não parece que a vida escapou da vida e que agora, talvez, resta ao teatro a homérica tarefa de costurar de volta vida à vida? eu penso que sim, infelizmente, hoje, mais que nunca, eu penso que cabe ao teatro a solução que não veio. cabe ao teatro ajustar a vida gangrenada. eu sei lá, parece muito, parece impossível, mas desde quando dificuldade e impossível são castração à criação sensível?

portanto, a situação é pensada como uma concentração de vida. uma overdose de vida. de susto, de medo, de espanto. como imaginar esse processo? essa preparação? dragão talvez esteja querendo ser, antes de peça, esteja querendo ser a nossa própria tentativa de afetação pelo outro. em cena, mais do que falsidade, mais do que facilidade em ser drama, em chorar, sofrer isso e aquilo, em cena colocamos a nossa persistência sobre o outro, a nossa tenaz tentativa de fazer de nosso corpo - e espetáculo - possibilidade de encontro com aquele que nos difere. e também resposta à falta deixada por quem sequer conhecemos.

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

deu tudo preto ---

eu pensei alguma coisa sobre dragão, quando me virava de um lado para o outro na cama. era como se eu imaginasse, ou soubesse, de maneira súbita, do que se trata este projeto. eu sonho essas coisas ou penso, mas me parecem tão exatas, que então me desoriento. é como se o projeto precisasse sempre e de novo, a cada vez, se perder para valer o jogo de buscá-lo.

muita poesia. (eu estou tentando lembrar o que era). dragão é sobre cinco amigos, nós cinco, presos no exato instante em que descobrimos que você, nosso amigo em comum, morreu. mas não é bem um drama comum pra chorarmos juntos a morte de alguém querido. é um drama espanto sobre a confusão do suicídio. eu pensando que a ideia de realizar este espetáculo em apartamentos de amigos (e que esses amigos precisarão então aceitar que a dramaturgia viva a sua morte), eu pensando que quando estivermos num teatro, numa sala preta (sem dono amigo que nos dê sua vida e nome ao drama previsto), nesse caso - o da sala preta - dragão vira um drama sobre situação no sentido mais cru, mais irredutível: e se perdêssemos um amigo dessa forma?

a estreiteza do quarto, do cômoda, da sala de um apartamento real nos dá a delicadeza do nome. sem isso, a frieza do palco nos devolve a sensação de possibilidade. podem ser muitos e muitas. no espaço negro da sala de espetáculo cabe tudo.

situação - eu ainda estou tentando entender que tipo de dramaturgia é essa. mas eu tento entender pensando. há que existir outra forma menos sem graça de testar possibilidades. o conceito está pronto, falta agora lançar o corpo e ver se cola, e ver se dá jogo.

é isso. eu não lembro o que sonhei ou pensei. mas tinha algo a ver com dobra, com lágrima e com motivo. fica para a próxima a razão de tudo isso.

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